Depois que terminam, as enchentes deixam um cansativo trabalho para os moradores que se deparam com casas tomadas de lama e sujeira. Além de exaustiva, a limpeza pode ser perigosa, alerta um guia elaborado por entidades como o Conselho Federal de Química e a Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (Abipla). Em formato de cartilha, as orientações constituem um passo a passo que pode evitar contaminação com alimentos e acidentes com produtos de limpeza.
A cartilha pode ser baixada gratuitamente na página da Abipla na internet. As orientações se dividem em dois grupos: “passos para a volta para casa” e “evite vetores e pragas urbanos”. Também integraram o trabalho a Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas (Aprag) e o Sindicato das Empresas de Controle de Vetores e Pragas (Sindprag).
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Antes de qualquer coisa, os especialistas ressaltam que é preciso receber a confirmação das autoridades de que é possível voltar para casa, sem que haja riscos de deslizamentos, desabamentos e novos temporais. O primeiro passo é esperar a água baixar e verificar se a casa não foi interditada pela Defesa Civil.
Conselheiro do CFQ e membro da Câmara Técnica de Saneantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ubiracir Lima, explica que os riscos envolvidos na volta para casa são principalmente dois: ser contaminado durante a higienização da casa e ser eletrocutado por fiações elétricas em curto. O guia orienta a cuidar do primeiro grupo e alerta que é importante que a eletricidade da residência esteja desligada na hora da limpeza.
“A água contaminada traz muitos riscos à saúde. Os dois exemplos clássicos são a leptospirose e a hepatite. E o material que está na casa, sejam móveis, colchões e alimentos podem ser contaminados por essa água”, explica Ubiracir.
Durante o trabalho de remoção da lama e água acumulados na casa, é preciso proteger-se com todos os meios possíveis, como máscaras, luvas e galochas. Se esses meios não estiverem disponíveis, sacos plásticos são uma alternativa para a proteção dos calçados e das mãos do contato imediato com a água e a lama possivelmente contaminadas.
Não às misturas caseiras
Outro risco enfatizado pela cartilha é o uso de misturas caseiras de produtos de limpeza, que podem inclusive produzir gases tóxicos e possivelmente letais.
“É muito comum ter informações de internet e influenciadores ensinando a fazer misturas, com a alegação de que vai aumentar a potência dos produtos ou que vai gerar economia. O risco é muito alto. Pode-se fazer uma mistura que explode ou gera gases muito perigosos que podem levar ao óbito ou a irritações de mucosas das vias respiratórias e olhos”, alerta. “O cidadão deve buscar produtos regularizados na Anvisa.”
A cartilha lembra que os produtos de limpeza devem ser usados de acordo com as orientações presentes nas embalagens e nunca devem ser misturados. Caso não haja recursos para a compra de saneantes e desinfetantes, a água sanitária é uma alternativa, mas é preciso usá-la de acordo com as orientações: duas colheres de sopa para cada litro de água no caso da limpeza de superfícies e uma colher de sopa para cada litro de água no caso de frutas, legumes e verduras que não tiveram contato com água ou lama da chuva. Todos os alimentos que tiveram contato com a sujeira devem ser descartados.
O diretor executivo da Abipla, Paulo Engler, ressalta que é preciso ter muito cuidado com o uso de água sanitária. “É um produto que tem que saber usar na formulação correta, no volume certo, e exatamente como está no rótulo do produto”, afirma Engler, que acrescenta que, além do risco de intoxicação, há possibilidade de misturas anularem o efeito dos produtos de limpeza.
“A mistura, na maioria das vezes, não é eficiente. Muitas vezes, ela anula a composição química, o que se imagina ser algo que vai melhorar a higienização, mas muito pelo contrário. Um elemento pode anular o outro. O produto de limpeza que é vendido no mercado e está homologado pela Anvisa, ele de fato higieniza, de fato desinfecta e deixa o ambiente limpo.”
Caixa d’água
Engler pede ainda muita atenção aos locais de armazenamento de água, como caixas d’água, cisternas e poços. Nos dois últimos casos, é necessária a análise laboratorial de um especialista para garantir que a água ainda é própria para consumo. No caso das caixas d’água, são necessários o esvaziamento e a limpeza com água e sabão neutro. Depois, a recomendação é encher novamente, adicionar duas colheres de água sanitária para cada litro e deixar em repouso por 30 minutos. Por último, a caixa d’água deve ser lavada abundantemente com água potável antes de ser enchida pela água que será consumida.
“Se houve uma inundação, mesmo que ela esteja no alto, nossa recomendação é que se esvazie a caixa d’água. O essencial é lavar antes de encher novamente”, explica. Segundo Engler, vetores e pragas que se deslocam durante uma enchente podem alcançar a caixa d’água mesmo que ela esteja no telhado.
Além de disponibilizar a cartilha na internet, a Abipla pretende oferecê-la a secretarias de Educação, para que cheguem até as escolas até meados de abril. A associação também tem um guia com informações básicas sobre produtos de limpeza, detalhando os cuidados necessários para usá-los.
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